Memórias Paroquiais da Igreja Matriz de S.Martinho da Vila de Sintra

Em 2º plano a Igreja de S.Martinho na Vila Velha de Sintra(Foto:PedroMacieira)

As Memórias Paroquiais, feitas em 1758, por ordem de Marquês de Pombal, ( Secretário de Estado do Reino do Rei D.José I, de 1750 a 1777), eram inquéritos que nessa data eram feitos aos párocos sobre um extenso conjunto de informações das freguesias . Verdadeiros censos, e que possibilitam hoje conhecer melhor a forma como se vivia em Portugal nessa época.

O exemplo que apresentamos; a Memória Paroquial da Igreja matriz de S.Martinho , que se encontra na Torre do Tombo é um exemplo desses importantes testemunhos

Memórias Paroquiais 1758, Vol.11 nº331 a 2260 -Torre do Tombo

Resposta do pároco de S.Martinho da Vila de Sintra ao inquérito em 1758:

(Extractos)
Da Igreja Matris, e Real Collegiada/ de Sam Martinho da Villa de Cintra./

“Estâ esta freguezia situada na praça desta villa, que fica na Ábas da Serra;/ não pude descobrir a criação della, nem o Cartorio, se acha noticia alguma, he das / mais antigas pello que mostra da sua arquetatura; esta tinha Capela mor, / e seis Capellas, quatro dentro do Cozeyro (sic) que Sam, das Almas em que tem a Imagem / de Santo Andre, e da Outra parte Sam Liborio;outra de Senhora do Rozario / e defronte desta á de Nossa Senhora do Livramento(...)”


Consequências do Terramoto de 1755

Relativamente ao danos provocados pelo terramoto de 1755, refere o pároco “a Capella Mor tinha vinte e sinco de fundo e dezouto/ de largo; era dabobada,Esta pello teramoto geral de 1755 se arruinou de forma / que apena ficou algumas paredes, mas essas incapazes de poderem servir.” E mais á frente “Ficou esta Villa a mayor parte arruinada, mas ja se acha com m.tos Edefficios/redeficados.Na mesma praça se acha a caza da Mizericordia que exprime/tou a mesma Ruina que freguesia, mas esta se acha ja quasi Coberta.Esta /Santa Caza tem um Hospital em que se curaó os pobres;tem rendas suffi/cientes p.ª se reger.”

Também as Memórias Paroquiais de S.Martinho ,permitem saber o número de habitantes existentes na Vila de Sintra na altura :”Esta freguezia tem trezentos e nove vizinhos, e mil cento e outtenta, e tres pessoas.”.

Estas memórias são realmente verdadeiros retratos da forma como em 1758, se vivia em Portugal, e neste caso em Sintra em particular. As Memórias Paroquiais dão-nos um conjunto de informações que nos obriga a reflectir no percurso feito por este país nos últimos 249 anos.


Igreja de S.Martinho
-De origem românica provalvelmente da segunda metade do séc.XII, foi substituída no reinado de D.Dinis (sec.XIII) por um templo gótico, como confirma a lápide de Margarida Fernandes (1334).Sofreu pequenos melhoramentos durante a Renascença e o Manuelismo.Sériamente danificada pelo terramoto de 1755, foi reconstruída, mantendo hoje a traça setecentista.

Comentários

Caro Pedro:
O conhecimento do país real era tão escasso que só um homem da craveira do Marquês consegui "obrigar" a Igreja e os seus dignatários locais a esse esplendoroso trabalho. Mandado fazer, entre outras causas, precisamente para se ter conhecimento dos efeitos do terramoto no resto do país. Dai uma das perguntas incluidas ser precisamente sobre os efeitos do terramoto nas diversas localidades. Depois permite perceber a própria cultura escrita (numa época em que a cultura escrita era escassa, basta observar outra documentação da época, por exemplo a notarial, em que as a grande maioria das assinaturas eram feitas de cruz, outro símbolo importante, para atestar a veracidade e honorabilidade do documento e percebermos a relação e o poder da Igreja) e geral dos párocos das diferentes povoações, dado que até nas próprias respostas, umas são mais extensas que outras, umas mais eruditas que outras, podemos aquilatar dos seus interesses e do conhecimento que possuiam sobre o território em que se moviam. Interessante por isso o seu post. Muitas e muitas informações sobre o país real, as suas estruturas, monumentos, etc., nos são transmitidas por estes maravilhosos (para os historiadores)documentos.
Anónimo disse…
Em 1758...
"Esta freguezia tem trezentos e nove vizinhos, e mil cento e outtenta, e tres pessoas".

Muito interessante o seu post.

Seria curioso cruzar estes dados com os registos paroquiais, que os deve haver, concerteza.
Num anexo da Igreja de S.Martinho funciona um pequeno museu de Arte Sacra, bem cuidado, que se pode visitar. Um destes dias vou procurar o que haverá lá de livros de registos.
e.r.
pedro macieira disse…
Carlos freitas:Marquês de Pombal o homem da baixa pombalina, que ainda hoje nos tempos de Santanas &Carmona Rodrigues Lda, serve e bem a população de Lisboa.E estas Memórias Paroquiais tem informações de grande interesse para se perceber a história deste país.//E.R:os registos paroquiais, são também um manancial de informações sobre as familias, não conheço ainda os registos paroquiais de Sintra, será uma pesquisa a fazer em breve.
:)Cumpts.
Anónimo disse…
Muito bom verbete. Cheio de ineteresse (não desfazendo). Gostei de saber notícias da freguesia.
Cumpts.
pedro macieira disse…
bic laranja:Um tema muito interessante, que vou continuar a explorar.
Um abraço

Mensagens populares deste blogue

Rui Cristino da Silva