Sobre a Igreja da Misericórdia de Colares (reedição)

A possibilidade de uma visita a um local de Colares que poucos conhecem, por não estar aberta ao público - permite apresentar hoje um post, sobre a Igreja da Misericórdia de Colares, classificada Imóvel de Interesse Público (Decreto-Lei n.º 2/96, 6 de Março), construída em 1623, e actualmente em obras de recuperação.Também o valioso retábulo maneirista de talha, datado de 1581, está a sofrer um restauro.
ESTA CAZA HE DA MIA PRINCIPIVSE
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A Misericórdia de Colares foi fundada em 1623 por D.Dinis de Melo e Castro, bispo e Leiria, de Viseu e da Guarda, na época em que o eclesiástico estabeleceu a sua residência na Vila. A igreja da irmandade ficaria sediada numa capela pertencente à familia Melo e Castro, possivelmente edificada nos últimos anos do século XVI.
A fachada da capela apresenta uma estrutura marcada pela sobriedade, não se filiando no modelo das igrejas da misericórdia edificadas a partir da segunda metade do séc.XV.
É um pequeno templo familiar, de planta longitudinal de nave única que integra a capela-mor.Na cornija do portal da capela foi incrita a data de 1623, numa alusão à fundação da irmandade.


O interior do templo possui coro-alto de madeira e púlpito quadrado do lado do Evangelho, fronteiro ao cadeiral dos irmãos da Misericórdia. O espaço é coberto por uma abóboda de berço.

Na capela-mor, mais elevada e com tribuna, destaca-se o retábulo de talha maneirista, que se desenvolve em dois registos, de colunas dóricas estriadas o primeiro, de colunas corintias o superior,que apesar da linguagem erudita do programa decorativo,” é mais tradicionalista no seu grafismo de superficies planas e jogo de contrastes pouco acentuado”, que os outros retábulos da mesma época (Serrão,Vitor 1979,p24); a linguagem de contrastes tipicamente maneirista é sobretudo transmitida pelas pinturas.
Executadas pelo pintor Cristóvão Vaz, para a familia Melo e Castro quando seriam os proprietários da igreja na década de 90 do século XVI.(...)
Em meados do século XX a capela da Misericórdia encontrava-se votada ao abandono, em estado ruinoso.

No entanto em 1959 o retábulo foi restaurado, sendo a igreja aberta ao culto.



Fonte:Texto do IPPAR  Concluímos assim a a visita que fizemos à Igreja da Misericórdia de Colares. Socorremo-nos de um texto de Maria Teresa Caetano em "Colares" sobre este templo construído no ano de 1623.

"A carência de recursos da Misericórdia colareja deverá ter imposto um simples mestre-pedreiro na condução da obra. Fabricou-se, então, modesto templo de prospecto simples e desprovido de ornamentação, revelando um certo “espírito chão” de cariz vernacular, cujo maior aleijão se encontra no ulterior aproveitamento de uma empena única da frontaria da igreja e da Santa Casa."


A Misericórdia de Colares foi instituida em 1623 por iniciativa de alguns colarenses. No entanto e ao contrário de vários autores, D.Dinis de Melo e Castro não terá tido um papel fundamental na sua organização, mas actuou decisivamente na resolução da contenda que opunha a igreja de S.Martinho de Sintra e a Santa Casa” (...) “refira-se, por outro lado que o irmão do bispo, D.Francisco, teve, de facto, uma actividade relevante em todo o processo, quer como mecenas, quer como dinamizador e, inclusive, desempenhou funções de provedor.”
Segundo a autora, esta contenda, é a razão do memorial inscrito numa placa em mármore escuro emoldurado por placas rosadas, dedicado a D.Francisco de Melo e Castro e a outros familiares, não se mencionar sequer o nome do bispo.

(clicar na foto para ampliar)

A construção do templo iniciou-se em 1623, recorrendo de novo a Maria Teresa Caetano “Os trabalhos de construção foram morosos devido às dificuldades económicas da irmandade. Neste mesmo ano solicitou-se ao rei espanhol licença para pedir esmolas(...)”
“A igreja foi visitada pelo vigário de São Pedro, em 9 de Junho de 1631, que a achou decente para nela se celebrar missa e demais ofícios divinos. E, a 11 de Outubro , o pároco de Colares obteve licença para benzer a igreja e respectivo adro.”
"No pequeno adro fronteiro, limitado por um murete de sustentação de terras, destaca-se o cruzeiro cujo fuste circular sustém um crucifixo rudimentar."

Post relacionado:
Igreja da Misericórdia de Colares I-aqui

Comentários

Unknown disse…
Caro Pedro

Sugiro-lhe que faça uma nova visita ao local e uma nova reedição do post com dados actuais.
A Igreja teve outras obras recentes de conservação interior (pintura e caiação, reforço da estrutura do Coro, alguma decoração, tratamento de piso, etc.).
Passou a ter uso regular para a finalidade da sua edificação e foi reposta a imagem de Nossa Senhora das Misericórdias, em tempo levada para a Santa Casa da Misericórdia de Sintra.
Merece uma visita e talvez possa aproveitar amanhã, sábado, pelas 21 horas, visto que ali haverá uma conferência alusiva ao "Império do Espírito Santo", tradição acolhida pela aldeia do Penedo há cerca de 250 anos.

Aceita um abraço do
Jaime Corvo

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