Postal Nocturno das Azenhas do Mar
Azenhas do Mar, foto em 17/03/2013
"(...) Há, porém, qualquer coisa que, felizmente não foi atingida pelas realizações arquitectónicas dos promotores do seu progresso(1). Refiro-me a um paredão feito da própria penedia, orlado por uma simples balaustrada sobranceira às ondas, construído à entrada das Azenhas do Mar e donde os nossos olhos podem estender-se sôbre o largo.
A perpectiva é tão erma e tão grandiosa que chega a ser perturbadora.Dir-se-ia uma varanda sôbre o infinito. Apenas céu e oceano.Entre os azuis religiosos das duas imensidades, insensívelmente a alma desprende-se-nos dos pequenos nadas da vida quotidiana. As nossas ambições as nossas vaidades, as nossas querelas. tudo é tão pequeno, tudo tão inútil, tão insignificante em face daquele deserto insondável, daquela cúpula profunda e sem limites...
Diante de nós alargam-se os horizontes e naquela solidão onde anda suspensa uma interrogação eterna, como que nos sentimos a sós com o nosso próprio destino.
Perto desce a povoação das Azenhas do Mar em coleados pitorescos até à beira da água formando um promontoriozinho que avança sobre o mar num recorte mais saliente da costa."
Oliva Guerra, "Roteiro Lírico de Sintra" 1940
(1) Referência às construções na Praia das Maçãs, das "dúzias de Chalets acatitados- na maior parte de tão mau gosto..."
*Oliva Correia de Almada Meneses Guerra, nascida no Concelho, e em cuja obra como poetisa, musicóloga e cronista procurou não só contribuir para a vida cultural do concelho, mas também promovê-lo além fronteiras.
Das suas várias actividades destaca-se o seu trabalho como presidente do conselho director do Instituto de Sintra, que em conjunto com a Câmara Municipal de Sintra era responsável pela dinamização cultural do concelho, e a edição, de autor, dos livros Serenidade, Passos ao Longe e Roteiro Lírico de Sintra, bem como a sua actividade de cronista em jornais como o Diário de Lisboa e Diário Popular.
Oliva Guerra nasceu em Sintra em 1898, e veio a falecer em 1982.
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