Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra*

Chevrolet (Foto encontrada -aqui)

«Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra.
Ao luar e o sonho, na estrada deserta.
Sozinho guio quase devagar, e um pouco
Me parece, ou me forço um pouco para que me pareça.
Que sigo por outra estrada, por outro sonho, por outro mundo,
Que sigo sem haver Lisboa deixada ou Sintra a que ir ter,
Que sigo, e que mais haverá em seguir senão não parar mas seguir?
Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa.
Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.

Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,
Sempre, sempre, sempre,
Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,
Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...»


*Poesia de Álvaro de Campos. Poesias –encontrada no Sintra Guia ed.CMS

(Homenagem a Latino Coelho)

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) 1888-1935

Comentários

Maria disse…
> Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa.

Acho que foi inspirado nisto que o António e Variações escreveu: Estou bem , onde não estou …
pedro macieira disse…
maria,
Talvez o António variações fosse um "Pessoa" de outro tempo...
Um abraço
Anónimo disse…
Caro Pedro: Desculpe a correcção, mas o carro em questão não é um Chevrolet, mas sim um Ford Thunderbird.
Mas, se não tivesse esse título, a foto não se adequaria ao poema de Álvaro de Campos...

Abraço.
pedro macieira disse…
Carlos Portugal,
Terá toda a razão, terá sido um engano da minha parte derivado de no capot, o simbolo do Ford ser parecido com o símbolo do Chevrolet, prometo rectificar a foto logo que que tenha a foto certa.
Um abraço

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