O retrato de Vanessa

Imagem RTP

“Nunca na vida vinha para aqui para viajar e ver os jogos. Para isso não vinha. Há pessoas a quem lhes é igual ficar em 50º ou 20º ou o que quer que seja. Nunca pensaria assim. Até ficava desiludida se pensasse dessa maneira. E nunca estou satisfeita.”
Vanessa Fernandes, Medalha de Prata na prova de triatlo –Pequim 2008

Nota: O valor do prémio será distribuido a intituições de caridade que trabalham com crianças(22 500 euros)

Imagem RTP

O Que Vanessa Fernandes nunca diria:

“De manhã, só é bom é na caminha, pelo menos comigo”
Marco Fortes, lançamento do peso; dois lançamentos nulos e um de 18,05m, longe da sua marca pessoal 20,13m. Foi o 35º entre 48 competidores. Pequim 2008.

Comentários

Rui Silva disse…
Pedro, comungo do seu regozijo (evidente) pelo sucesso da Vanessa Fernandes, mas estou completamente em desacordo face à postura da triatleta face aos seus companheiros da equipa olímpica portuguesa.

As declarações da Vanessa Fernandes, qualificando indirecta e também directamente (caso do Tiago Venâncio) outros atletas da comitiva, foram:

- injustas
- infelizes
- precipitadas
- infundadas

Recordo que a Vanessa não está em Pequim, mas numa reserva natural fora da cidade e da Aldeia Olímpica. Não tem tido contacto com os outros atletas que não os do triatlo, e as únicas notícias que lhe chegam é via CS.

Parece-me pois completamente disparatado que a Vanessa venha qualificar os outros, e fazer uso de uma certa imodéstia (coisa nova nesta rapariga) que só lhe fica mal.

Aliás, declarações mais ou menos aparvalhadas "é mato" nesta Olímpiada.

O presidente do COP (que conheço pessoalmente) mais valia estar calado. Diz e depois diz que não disse. Acusa, mas é o primeiro a saltar do barco (logo ele, que é Comandante). Agora diz que talvez não... Enfim...

O presidente da FP de Natação (que foi me treinador durante uns anos, no Algés) deu uma imagem extremamente negativa de si e da modalidade.

E por fim, atletas como o Marco Fortes, que se expressaram de forma totalmente inadequada.

EM TODO O CASO...

Aquilo que o Marco disse não é disparate nenhum. Ou melhor, aquilo que ele QUERIA DIZER faz sentido: de facto, o corpo de cada um reage melhor ou pior em determinadas horas do dia, e o que ele queria dizer é que de manhã tende a render bem menos do que à tarde.

Por isso é que muitos atletas programam a sua preparação de forma a treinar às horas em que sabem que vão competir. Se o Marco não o fez... culpa dele e de quem o treina.

Agora, se "a caminha" é expressão que se lamenta, mais lamento a forma como este mediocre país se tem lançado de forma absolutamente selvática aos pobre e esquecidos (excepto de 4 em 4 anos) atletas olímpicos.

O que lhes vale é que os JO estão quase a acabar (ou seja, voltam ao esquecimento do país e da CS).

Um abraço
RV
Zé Maria disse…
Tenho que concordar com quase tudo o que escreve RV. Não me tenho cansado de defender os atletas Portugueses contra esta corrente de maledicência que os tem atingido por todos os lados. Não há dúvida que aquela da caminha foi infeliz, mas isso não faz de toda a comitiva um bando de parasitas como os jornais pretendem agora fazer crer. Sobretudo, porque a principal causa da desilusão que agora se percepciona foi justamente um excesso de expectativa criada pelos mesmos órgãos que agora desfazem nos atletas.
Eu conheço bem a organização da Federação de Triatlo, mas o trabalho notável que esta federação está a fazer está a léguas da generalidade das outras modalidades. Resultados obtêm-se com organização, trabalho, motivação e empenho. De todos, não é só dos atletas.
Houve, de facto, algumas desilusões com atletas que poderiam ter ido mais longe. Foi uma coincidência infeliz que tantos acabassem por falhar, mas talvez o efeito de bola de neve que a pressão dos media foi criando tenha também tido nisso alguma responsabilidade.
Não temos que culpar os atletas nem temos forçosamente que culpar os organismos. Ao contrário, temos é que investir mais se queremos mais resultados. Temos que fazer do desporto um projecto a longo prazo e não estar à espera de fazer omeletes sem ovos.
Sacudamos esta energia depressiva que anda no ar e vamos arrancar com animo para o próximo ciclo olímpico.
Para a frente é que é o caminho.
pedro macieira disse…
Caros rs e zm,

Declaração de interesses: Não pratico qualquer tipo de actividade desportiva, embora em jovem o tivesse feito.Acompanho com interesse os resultados do desporto português no confronto com os restantes países do mundo.Não conheço as tricas entre as federações e os atletas, e dos atletas com as federações.

Quando publiquei as afirmações de Vanessa Fernandes, em forma de homenagem ao esforço , ao trabalho e aos resultados desta tri-atleta, calculei que poderia gerar alguma discussão, principalmente junto daqueles que fazem do desporto, uma forma de estar na vida (saudável), ou mesmo que o pratiquem de forma amadora ou como profissionais.

Quando sublinho as lamentáveis afirmações de um participante nos jogos de Pequim em contraste com as afirmações de uma atleta que se consagrou como medalha de prata nos mesmos jogos. Tinha como objectivo realçar que os resultados só são alcançáveis (no desporto de alta competição), com muito trabalho,e parafraseando o adepto mais activo de Vanessa Fernandes, o seu pai: “é sofrer, é sofrer até cair...”.
Ora o que me parece é que o tempo do ideal dos jogos Olimpicos do Barão de Pierre de Coubertin, mudou (ver os resultados dos medalhados, e como se prepararam) e se atletas como Naide Gomes, falham na tarefa para que durante anos se prepararam com erros técnicos como não conseguir preparar dois saltos válidos em três...se no judo depois de uma derrota se queixam que os árbitos estavam feitos...com os chineses, ou se o melhor corredor de velocidade, avisa que irá ganhar a medalha de ouro, porque estava na melhor forma de sempre e depois desiste da outra prova para que estava inscrito...

Parece-me o sidroma activo de “Saltilho”,de notar também que.sempre que há apresentação das selecções de futebol português elas são sempre favoritas a tudo que é primeiro lugar, antes das competições e depois é o desaire total.

Vanessa Fernandes, tem mostrado que consegue atingir os objectivos que se esperam dela no contexto competitivo mundial, tem melhores condições – ainda bem, pois segundo penso saber levanta-se ás 5 horas da manhã para treinar na piscina do estado do Jamor, não fica na caminha...


Existem realmente dois grupos de atletas-os medalháveis, e os que estão lá porque atingiram os minimos exigidos.Desse segundo grupo parece que alguns estão lá como prémio, (segundo percebi agora )não para disputar os melhores lugares.
Quanto às afirmações de Vanessa acho que ela tem curriculo e trabalho para as fazer, e ela só as fez depois dos outros...
Um abraço
Anónimo disse…
Foi com tristeza que li o seu comentário aos atletas olímpicos, fazendo eco do que se tem passado no país.
Só mesmo quem não faz a mínima ideia do que é praticar qualquer desporto, pode "ir" nessa onda.
Para fazer no nosso país, qualquer desporto, tem de se abdicar de tudo o que os outros jovens vivem... para se obterem mínimos olímpicos há muito esforço e muita prova a superar.
Estar num país diferente, em clima, em fusos horários, em alimentação... e, tanta outra causa externa ao treino é díficil.
O corpo humano reage diferentemente a vários estímulos e, nem todos têm o mesmo rendimento nem às mesmas horas nem em condições idênticas.
Ter o estofo dum Carlos Lopes ou duma Vanessa Fernandes é muito raro entre nós...
Há que respeitar o trabalho de cada um, que não foi pouco …

CG/.
Rui Silva disse…
Pedro, apenas para que fique com uma ideia mais correcta do esforço de preparação dos atletas olímpicos (e não olímpicos) em Portugal: eu não fui nadador olímpico, apesar de ter estado integrado num projecto de preparação com esse fim, e garanto-lhe que desde há muitos anos centenas de nadadores neste país se levantam 5 ou 6 dias por semana à mesma hora que a Vanessa para treinar. E treinam (eu há 10 anos treinava...) 6/7 horas por dia. E não são profissionais.

Eu admiro muitíssimo a Vanessa. E estou completamente de acordo com o ZM. No triatlo não se anda a brincar (clubes e federação). Mas pergunto: porque razão não levantou a voza a Vanessa relativamente ao Bruno País (17º) e ao outro rapaz do triatlo (que ficou muito atrás) preferindo usar a expressão "à balda" para qualificar a preparação do Tiago Venâncio?

Quem é ela para falar do que não sabe, insinuando que há quem vá aos jogos apenas passear?

Asseguro-lhe, Pedro, que o facto de um atleta não estar no grupo dos "medalháveis" (essa expressão horrível que agora surgiu) não quer dizer que não vá dar o máximo... morrer em campo, pista ou tapete por um sonho que está a viver.

Quem lhe escreve isto é um, ex-nadador que sonhou (muito) com os JO, e não teve a alma e o talento suficiente para lá chegar.

Eu respeito TODOS os atletas olímpicos. E porque já andei entre eles afirmo convictamente: ao longo destes 15 dias este país mostrou que não os merece.

Hoje o Nelson Évora ganhou o ouro! Foi lindo, sublime, foi um momento de grande alegria. Hoje TODOS ganhámos.

O problema é que na derrota preferimos (nós todos, os portugueses, não me refiro especificamente a ninguém) isolar o "derrotado". Ele/Ela perdeu. Nós não. Nós julgamos.

Um abraço
Rui Vasco
Zé Maria disse…
Eu acho que o ouro do Évora veio dar um pouco de razão ao que dizíamos (eu e o Rui). Reparaste, Pedro, que esta foi a 4ª medalha de ouro de toda a história do desporto olímpico Português?
Não te parece que se criou uma expectativa demasiado elevada?
Eu acredito que podíamos ter feito melhor figura, mas o desporto é assim mesmo. Em lugar de nos deprimirmos com os resultados não atingidos (e com algumas palermices, que as houve, de atletas presentes nestes JO) exultemos com os bons resultados, que foram muitos e preparemos a nossa energia colectiva para investir no próximo ciclo olímpico.
Dá uma espreitadela neste texto do meu amigo David Vaz, que é Director Geral da Federação Portuguesa de Triatlo: http://pulmao.blogspot.com/2008/08/emoo.html

Um abraço.
pedro macieira disse…
Caros, ZM,RS e anónimo,
Antes de tudo agradeço a vossa participação com as vossas opiniões, não totalmente coincidentes com a minha sobre a prestação Olimpica da delegação portuguesa a Pequim.
A minha opinião sobre as atitudes e prestações de alguns atletas, não pretendeu denegrir a dedicação e o esforço no treino de todos os desportistas de qualquer das modalidades presentes ou não no jogos Olimpicos.

Não sendo praticante de desporto, conheço pessoas que o fazem e especialmente em relação à natação- conheço minimamente o ritmo duro do treino que é exigido ao praticantes, e reconheço a necessidade que esses praticantes terem uma vida à parte da maioria dos jovens das suas idades, o que torna a sua opção mais corajosa.

A acusação de ir na “onda” não é correcta, a minha opinião é baseada na minha análise da informação que vou obtendo, não sentido necessidade de a mudar só porque existe no “ar” um sentimento critico em relação ao grupo seleccionado para Pequim.

O ambiente encontrado em Pequim é igual para Americanos,Africanos,Asiáticos, Autralianos e Europeus, não é por aí que os portugueses tem uma dificuldade que os outros não tenham.Sei que a natação portuguesa estagiou em Macau, e de certeza outras equipas Olimpicas terão feito o mesmo, para ambientar os seus atletas a fusos horários e climatéricos mais proximos do que iriam encontra nos Jogos em Pequim.
Nem todos podem ser campeões, é uma verdade , mas devemos ser modestos e não aumentar as expectativas para resultados que todos sabemos que serão inantingíveis.

As poucas medalhas conquistadas em Jogos Olimpicos, corresponde ao estado actual de um País que constroi 7 estádios de futebol, e só em dois (parece-me) tem pista de atletismo,ou ciclismo, como velho estádio de Alvalade tinha.

Há poucos anos a existência de piscinas, ou locais de pratica de algum desporto, fora dos (velhos) pavilhões escolares era rara. Hoje existem melhores condições, e terá que demorar algum tempo até existirem atletas que façam melhores marcas.

Nelson Évora, ou Vanessa Fernandes agora, Rosa Mota e Carlos Lopes antes, são casos que emergem de um imenso grupo de praticantes com poucas condições num país indiferente ao desporto, excepto o futebol.Tenho total consciência do país onde vivo, e por isso não peço que todos tragam medalhas, mas que sejam mais modestos nas afirmações tanto dirigentes como atletas, e aqueles que já estão no patamar dos tais “medalháveis”, não utilizem desculpas esfarrapadas para encobrir os seus “falhanços”.

Abraços

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