Nunes Claro e Sintra


SINTRA

Ó Sintra, onde nas sombras rastejantes
Há sempre um verso antigo que flutua,
e as pedras guardam pranto dos gigantes
Titans, que foram bisavós da Lua;

Sintra, onde as juras nascem já distantes,
E o som de beijos mortos continua,
Onde a Hora, ao partir, deixa uns instantes
Para a Beleza se fazer mais nua;

Sintra das fontes e da névoa fria,
Onde Vénus deitou seu corpo um dia,
E em cuja sombra o grande Pan morreu;

Foi em ti, que a surgir sobre um desejo,
Entre uns lábios floriu aquele beijo
Que, primeiro na Terra, o homem deu!

Agosto 1935 - Nunes Claro

*Soneto, comemorativo da inauguração do monumento-lápide a D.Fernando II

«Toma essas rosas de Dezembro agora,
Que ao frio, à chuva, esta manhã colhi,
Elas trazem humildes, lá fora,
Saudades da montanha até aqui.

Hão de morrer d’aqui a pouco, embora!
Em cada curva onde o perfume ri,
Trazem mais o terno duma hora,
Que um frágil coração bateu em ti.

Aceita-as pois, mas, como a vida é breve,
E, um dia, perto, leve e branca neve,
Há-de cair sobre o teu peito em flor,

(Não vá Dezembro algum murchar-te o encanto)
Deixa tu que eu te colha agora, enquanto
Tens sol, tens mocidade e tens amor.»

Pobres Rosas de Sintra
Nunes Claro (1878-1949)
“ Médico distinto e poeta de rara sensibilidade. Só deixou um livro de versos, “Cinza das Horas”, e um poema . «Oração à Fome», dedicado a Guerra Junqueiro.O mais ficou disperso. Foi também um «pai dos pobres».

No Parque Municipal está gravado na pedra um belo soneto deste médico-poeta.Ali também, tendo como plinto uma rocha, está um busto do poeta, em bronze, da autoria do distinto escultor Anjos Teixeira(filho).

Nunes Claro, nos seus tempos de estudante, foi chefe de uma tertúlia de que fazia parte, entre outros, Ramada Curto e Máximo Brou. Tinha o nome de "Clária"».

Em Obras de José Alfredo da Costa Azevedo

*Foto Casa dos Penedos de Raul Lino

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