A CADEIRA DE ALMEIDA GARRETT

Á ILLUSTRISSIMA E EXCELLENTISSIMA SENHORA

CONDESSA D’EDLA

Senhora: Se os colossos da floresta
Aos céus enviam divinaes perfumes,
Tambem o agreste cheiro da giesta
Ousa humilde subir aos pés dos Numes.

Se o sol, que é vida e alma do universo,
Não desdenha aquecer o infimo insecto,
A vós do rude bardo implora o verso
Calor e luz de generoso affecto.

Gota d’agua levada pelo vento;
Modesto aroma d’uma flor caída;
Nem tanto valerá meu pensamento...
Mas inspira-o uma alma agradecida.


Francisco Gomes de Amorim,1878

«Aqui temos a gratidão servindo de musa ; o poema é um bilhete perfumado do agradecimento.As águas de Hippocrene aquecem-se sob o influxo d’um nobre affecto.«seria monstruoso ingratidão, diz o auctor, calar os motivos que inspiraram a dedicatória d’este humilde poemeto.Por pedido da illustre e generosa dama, para quem elle foi expressamente escripto, dignou-se sua majestade el-rei o senhor D.Fernando brindar o autor com um objecto histórico, preciosissimo como obra d’arte e como recordação saudosa- a cadeira monumental de seu mestre, o grande poeta Almeida Garrett.(...)
«...esta cadeira abbacial, como a denominava Garrett, dizia elle que pertencera a seu tio D.Frei Alexandre da Sagrada Familia, e ao ultimo ou penultimo abbade do mosteiro de S.Bento, de Lisboa .Adquirindo-a o poeta restaurou-a e deu-lhe a mais grandiosa fórma do que tinha primitivamente.Gomes de Amorim, em vida de Garrett, teve sempre especial predilecção pela belleza artistica déste movel e sua comodidade;(...)»

A.A. da Fonseca Pinto. Carta familiar
NOTA EXPLICATIVA:
Fernando Gomes de Amorim em 1878, publicou “A Flor de Mármore ou As maravilhas da Pena em Cintra”,
"Por morte de Almeida Garrett foi a cadeira comprada em leilão para El-Rei D.Fernando.Durante vinte annos sonhou Gomes de Amorim com a posse d’este objecto , tão precioso para as suas recordações e saudades."(...) (1)
Em 1876 a" Condessa dÉdla, sabendo d’estes desejos, e da enfermidade que o poeta ha longos annos padece, inspirou compadecida a seu marido o generoso pensamento de lhe offerecer a cadeira monumental de Almeida Garrett ".
Almeida Garrett "que foi o seu melhor amigo e mestre e que lhe serviu até de pai"
A cadeira monumental em que “o immortal auctor do Camões e D.Branca, depois de ter regressado de Belem para a rua de Sancta Isabel, casa (2)que hoje mostra o numero 78,suportou as primeiras agonias do doloroso drama com que terminou a sua gloriosa existencia.”

«Desejoso o poeta de mostrar-se reconhecido a este testtemunho de consideração e benevolência, e sabendo quanto D.Fernando ama a sua magnifica residencia da Pena, lembrou-se de celebrar num pequenino poemeto, consagrando-o á Condessa d’Edla, aquella encantadora vivenda....»


A cadeira de Almeida Garret faz parte actualmente da colecção do Museu do Teatro.

Na introdução ao poemeto “A Flor de Mármore” existe uma “Invocação á senhora Condessa d'Edla” , que publicamos neste post .Em próximos post abordaremos o poemeto que dá o nome à obra e a biografia de Fernando Gomes de Amorim.

(1)sublinhados são da carta familiar de A.A. Fonseca Pinto de 1878

(2) Casa de Almeida Garrett recentemente demolida , provocou um grande movimento de contestação. Em 2003 Santana Lopes autorizou a destruição desta casa, para depois recuar na decisão. Carmona Rodrigues, no dia 6 de Janeiro de 2006, autorizou de novo a destruição da casa.O proprietário da casa não recuou nos seus objectivos de construir naquele local um novo imóvel.O proprietário em questão é o actual Ministro da Indústria do Governo de José Socrates, Manuel Pinho.
Fotos da casa de Almeida Garrett recentemente demolida (Imagem retirada do site "Coisas da Cultura"

Agradecimento:
A Emilia Reis ,pela cedência da obra "A Flor de Mármore ou as Maravilhas da Pena em Cintra" e da foto do Chalet da Condessa d'Edla.

Comentários

Zé-Viajante disse…
Louvável a " paixão " pelo tema da Condessa. Oxalá haja a tão necessária recuperação.
Abraço
pedro macieira disse…
Penso que é necessário que os habitantes de Sintra, esteja sensibilizados para a riqueza do seu património monumental e paisagístico.O Chalet da Condessa d'Edla que foi destruído em 1999 por um incêndio,durantes estes anos a sua recuperação não foi e não é para as entidades que tem gerido o Parque da Pena uma prioridade, e não é aceitável que uma peça artística como o Chalet, simbolo do romantismo (construído por D.Fernando,e pela Condessa assim como o próprio Parque incluíndo o Palácio da Pena como um todo),esteja a ser reduzido a ruínas enquanto se constroem Casas das Selecções, onde se gastam importantes verbas que poderiam ser canalizadas para a recuperação do Património de Sintra.O valor principal de Sintra é esse , e esse deverá ser a principal prioridade de Sintra.E os Sintrense tem que ter uma acção de interventiva nestas situações.
Anónimo disse…
Eu acredito que o assunto da recuperação do Chalet da Condessa jamais volta a ser ignorado e esquecido, como até aqui, porque nós não vamos deixar.
e.r.
pedro macieira disse…
Concordo que continuemos a fazer pressão para que "alguém" responsável nesta Sintra, se sinta obrigado a dar um passo para resolver este escândalo.E também é necessário sensibilizar os habitantes de Sintra, para que a pressão se torne eficaz.

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