Memórias Paroquiais II

Aproveitando o excelente retrato da sociedade portuguesa de 1758, que as Memórias Paroquiais possibilitam, divulgamos hoje mais uns excertos das respostas aos “interrogatórios” que o Marquês de Pombal colocou aos párocos de então, uma forma de obter informações sobre a população o seu modo de vida e as consequências que o grande terramoto de Lisboa de 1755 teria provocado na região.


Memórias Paroquiais da Região de Colares

Resposta da Freguezia de Sancta Maria de Cintra âos interrogatórios incluzos:
Esta Freguezia de Santa Maria Situada junto â Villa de Cintra, no Arrebalde da mesma Villa ; pertence ao Patriachado de Lisboa, cuja Villa hê da Comarqua de Alenquer, terra da Raynha Nossa Senhora, da Provincia da Extrema/dura.
Tem esta freguezia cento, e quatro vezinhos, que são fogos, ou familias em que se comprehendem trezentas e oitenta pessoas dentro em huá legoa de distancia pª a parte Nascente.
(...)
A esta Serra, chamada vulgarmente Serra de Cintra, os Mareantes lhes chamam Cabo da Roca; e os antiguos, Promontorio, ou Monte da Lua; corre desde o pé da Villa de Cascaes, athe á Rocha, que fica por sima da Villa de Collares, aôn/de vai fenecer em o Mar Occeano, â que os moradores destas terras chamam Rio das Maçans; terá de comprido a dita Serra tres Legoas, e de largo Legoa, e meya ; ficaó nas suas faldas situadas tres Villas Cascaes, Cintra, e Collares.
Tem varios regatos de agoa, e muitas hervas medicinaes, cuja virtude sô hê conhecida de quem o professa.

Rio das Maçãs/Ribeira de Colares
(...)
Hâ porem huma fonte chamada fonte da Sardinha, aonde junto de huma grande pedra, sahe hum grande olho de agoa , de que se servem os moleiros desta terra para moerem os trigos do povo; naó hâ memoria de que jâ mais secasse esta fonte. E de veram he esta agoa repartida, para benefeciar as fazendas, ou pumares de Caroço e espinho, que estam junto de sua Corrente pella Rybeira de Cintra, e pello uzo desta agoa pagaó os moleiros quarto a fedelissima Raynha Nossa Senhora.
Cintra 18 de Abril de 1758
O Prior Fran./co Antunes Monteiro

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-Fotos:PedroMacieira
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Comentários

Anónimo disse…
Fiquei com alguma curiosidade nesta “Fonte da Sardinha” que nunca tinha ouvido falar bem como da localização das “azenhas” que moiam o trigo. José Alfredo da Costa Azevedo localiza a Fonte perto de grande rochedo, o mesmo que o Prior refere em 1758, (hoje com aquele soberbo plátano),no lugar onde se encontra instalado o Museu Anjos Teixeira junto à Volta do Duche, cuja construção, primitiva, diz, também foi uma azenha.
Julgo que vestígios de outras azenhas se encontram hoje, ainda, junto de duas casas quase em ruinas, no "Caminho para a Ribeira". A...

"MEMÓRIA DE UM TEMPO QUE JÁ NÃO HÁ".

e.r.
wicky disse…
oque quer dizer que nem todas as memórias paroquiais são de mé memória...

que texto interessante este das Memórias Paroquiais para nos dar a conhecer a história de Sintra e do Monte da Lua que vai de Cascais a Colares .

Parabéns pelas escolhas !!
pedro macieira disse…
E.R,
Também fiquei curioso com a "Fonte da sardinha".
Um abraço
pedro macieira disse…
Wicky,
Esta Memórias Paroquiais ,até são de facto muito boas memórias, e permitem nos nossos dias perceber melhor como era a nossa sociedade em 1758. E realmente só os párocos é que as poderiam escrever, pois o analfabetismo era a situação mais comum nessas altura.E nos últimos 300 anos, não fomos muito eficazes em o fazer desaparecer.
Um abraço

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