Memórias do eléctrico da Praia das Maçãs

Página do Jornal "A Capital" de Agosto de 2004

Eléctrico Voltou Aos Carris Entre Sintra e a Praia das Maçãs
Por LUÍS FILIPE SEBASTIÃO

Jornal "Público" Sábado, 05 de Junho de 2004

O Presidente da República, Jorge Sampaio, recuou ontem aos tempos da meninice e voltou a viajar no centenário eléctrico que liga Sintra à Praia das Maçãs. A reabertura do troço entre a vila e a Ribeira repõe, por um euro por viagem, um serviço regular até ao litoral. A linha foi inaugurada em 1904. Após um longo processo de reabilitação, impulsionado pela presidente de câmara socialista Edite Estrela e pelo seu sucessor, o social-democrata Fernando Seara, os eléctricos voltaram ontem aos carris desde a Estefânia, junto ao Museu de Arte Moderna.

Uma multidão esperava a comitiva junto à Vila Alda, uma vivenda que a autarquia adquiriu para funcionar como terminal do eléctrico - mas que o atraso no lançamento das obras levou a câmara a "esconder" atrás de telas alusivas ao centenário deste meio de transporte. Foi pelas 16h45 que Fernando Jorge, de 67 anos, o mais antigo dos funcionários que ali trabalham, pôs em marcha o eléctrico apinhado de convidados, alguns populares e jornalistas. A composição ganhou balanço e do fundo da carruagem ordenaram ao guarda-freio para que fosse "mais devagar", devido ao muito peso.

Na Ribeira, o Presidente recordou os tempos em que, "com dois, três anos", ia com a mãe no eléctrico à praia. E a altura em que a companhia lhe deu uma mala de cobrador e um alicate para obliterar os bilhetes, à margem da "ilegalidade do trabalho infantil", como relata no prefácio do livro "Eléctricos de Sintra - um percurso centenário", de Valdemar Alves e Júlio Cardoso, também ontem lançado.

Retomado o percurso, os automobilistas iam acenando ou apitando ao longo do percurso. Antes da ponte de Galamares, onde o eléctrico cruza a estrada, uma automobilista não travou a tempo e bateu na traseira do carro da frente. Um pouco mais adiante Fernando Seara apontava para o renovado telhado do Palácio de Monserrate, já sem andaimes e exibindo a nova cobertura em chumbo pintado e telha romana.

O eléctrico foi vencendo caminho ao lado de vivendas e por entre quintais. Em Colares, a linha passa ao lado das últimas hortas e por entre solares que restam ao lado de moradias modernaças. O chiar dos rodados tornou-se mais intenso na aproximação à Adega de Colares. A comitiva desceu para um "ramisco" de honra, a afamada casta da região. Um responsável da adega informou que restam 38 produtores cuja produção totaliza o que, no passado, era vindimado por um proprietário. Isto porque, no lugar das antigas vinhas, completou Jorge Sampaio, "estão casas". Segundo contou antes de deixar a adega, o seu pai, médico em Sintra, costumava levar para casa garrafas de ramisco ofertadas pelos pacientes.O presidente da autarquia disse esperar que, no próximo ano, o eléctrico chegue à estação da CP de Sintra.

Um prolongamento que, juntamente com os 3,1 milhões de euros agora gastos, serve, na opinião de Seara, para "a afirmação turística" da vila. O eléctrico funcionará, a partir de hoje, em serviço regular de sexta a domingo, com cinco viagens diárias, e de terça a quinta só para grupos. Um bilhete familiar de ida e volta sem limite de utentes fica em quatro euros e os passageiros com mais de 65 anos têm desconto. Crianças até aos seis anos não pagam nada


Capa do Nº 2 do "Sintra Regional" de Junho de 2004

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