Vindimas e o Vinho de Colares
Texto publicado na edição do jornal "Correio de Sintra" de 17 de Outubro de 2012
Tempo de vindimas
“As vindimas roubam ao Outono as uvas onde o Verão está escondido e levam-nas para lugares cobertos onde o Verão será liquefeito e prolongado, melhorando, bem protegido, enquanto as tempestades ou as brisas ou seja lá o tempo que for batem lá fora” escreveu Miguel Esteves Cardoso, habitante na região, – e porque estamos no tempo das vindimas em Colares, que melhor tema escolher que não o Vinho de Colares.
Observador atento do que se passa em Sintra, tenho, ao longo do tempo, tido oportunidade de acompanhar algumas actividades da Adega Regional de Colares – o que me tem permitido ir aprendendo algumas coisas sobre a cultura do vinho nesta região e a sua importância ao longo dos tempos para a história de Colares.
A Região Demarcada de Colares é a segunda mais antiga do País, tendo sido fundada pelo Rei D. Manuel II através de Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908. Encontra-se localizada no Concelho de Sintra, nas Freguesias de São Martinho, São João das Lampas e Colares.
Em 15 de Agosto de 1931 foi criada a Adega Regional de Colares, organismo que teve, e tem, grande influência sobre a viticultura e vinicultura da região. Actualmente a produção do Vinho de Colares da Adega Regional de Colares, está dependente de um pequeno número de produtores da região, o que provoca alguns problemas à sua sustentabilidade.
O Vinho de Colares, tão mencionado por Eça de Queirós, e premiado no princípio do século em vários certames internacionais, está actualmente numa situação difícil devido à escassez da sua produção.
Os requisitos para que o vinho de Colares seja DOC (Denominação de Origem Controlada) são de grande exigência, tanto no plano da vinha, como também no controlo da sua produção, o que coloca alguns pequenos produtores fora da zona da Adega Regional. A denominação de DOC Colares é feita pela comissão Vitivinícola Regional de Bucelas, Carcavelos e Colares.
As pequenas uvas de ramisco dão origem à casta de Colares, a identidade da região. Cultivadas em solos de areia, com raízes a quatro metros de profundidade, ficam assim protegidas da filoxera, uma doença provocada por um insecto, que no séc.XIX destruiu milhares de vinhas por toda a Europa.
Na região surgiram outras soluções que fogem ao tradicional cultivo da vinha. É o caso da Fundação Oriente (2004), que detém actualmente a maior vinha de Colares que utiliza métodos de cultivo da vinha que não respeita as práticas tradicionais, como a rega automática e elevação das cepas acima do que é previsto ou a replantação de “enxertos prontos”. Além disso, a não utilização das paliçadas de canas secas, que além da descaracterização paisagistica natural da vinha poderão produzir alterações nas caraterísticas do produto final, e que segundo os viticultores tradicionais dificilmente se poderá chamar de Colares.
Outros projectos de menor dimensão como o exemplo da empresa de dois jovens enólogos “Casca Wines”, que se deslocam todos os anos a Almoçageme, e na Adega Víuva Gomes fabricam o vinho de Colares com uva malvasia e ramisco da região, respeitam todas as regras do DOC Colares, que depois de engarrafado com marca própria se destina na maior parte a ser exportado.
Dentro do ambiente do vinho de Colares além dos produtores que mencionámos existem dois armazenistas que engarrafam o vinho adquirido aos produtores da região e comercializam-no tanto no mercado nacional como no estrangeiro. É o caso de António Paulo da Silva, da Adega das Azenha do Mar, que comercializa o vinho de Colares com o rótulo Colares Chitas e também o casal da Azenha de chão rijo e um vinho mais corrente, o Beira-Mar.
A Confraria dos Sabores de Sintra, criada em 2011, na qual o Vinho de Colares tem uma representação, poderá ser um veículo de maior divulgação do Vinho de Colares, mas até agora os eventos públicos por si organizados demonstram alguma debilidade nesses objectivos.
Será necessário apoiar activamente a Adega Regional de Colares, de forma a preservar este valioso património que é uma parte importante da história de Sintra, mantendo como objectivo um longo futuro.
Pedro Macieira
Colares,07/10/2012
Comentários
emília reis
Ampliei a foto e pareceu-me que é notícia um acidente num treino que obriga o Clube a pagar 150.000€.
Como estão tão diferentes as pessoas, e neste caso os atletas do Hockey Club de Sintra.
Joguei lá uns anos, tenho mazelas que ainda hoje me lembram esses anos. Era guarda redes ainda no tempo que se defendia sem máscara, depois vieram umas pseudo-máscaras, que só protegiam o rosto. Num treino ainda no Parque (pavilhões era só para os ricos), levei uma bolada na cabeça do Lino Vieira, que fiquei logo em estado de coma, ambulância Hospital uma enorme ferida, cozida a sangue frio, nove pontos cuja cicatriz vai comigo para a cova. Fiz uma lesão na coxa esquerda que ainda hoje me doi.
Pergunta:
- Alguma vez me passou pela cabeça, a mim e aos outros atletas procesar o pobre clube que tanto gostávamos, responsabilizando-o do que nos acontecia?
Eu não conheço o caso, é difícil opinar, limito-me a fazer uma comparação entre ontem e hoje.
Ninguém ganhava nada, os melhores conseguiam um emprego, para ficarem fidelizadoos ao clube, tudo, como se diz na gíria 31 de boca.
Este artigo publicado no "Correio de Sintra" propicia uma informação que, além de correcta, é perfeitamente essencial. Registo, com o maior apreço, a denúncia das práticas da FO que são tão lesivas deste património cultural local. Oxalá haja professores das EB e ES do concelho que façam circular, comentem e enriqueçam o conhecimento dos alunos com esta sua peça. O Collares é uma «pomada» que bem merece todo o interesse da comunidade. Sempre tão atento como, aliás, aqui revela, o meu amigo é credor do reconhecimento de todos quantos nos reconhecemos gratos pelo seu trabalho. Bem haja. Abraço muito cordial,
João Cachado
Obrigado pelo comentário.
Abraço
Não conheço o caso que é referido no Correio de Sintra, mas vivemos hoje um tempo com valores algo alterados e o antigo amor à camisola já não é o que era...
Um abraço
Muito obrigado pelo simpático comentário.
O Vinho de Colares merecia uma maior divulgação e promoção e a actividade da histórica Adega Regional de Colares deveria ser melhor conhecida e como menciona, as escolas da região poderão ter um papel fundamental em fazer chegar aos alunos esse conhecimento.
Um abraço