A Papelaria "A Camélia" na Vila Velha
A Papelaria "A Camélia", que existiu na Vila Velha, segundo José Alfredo Azevedo*, teria já perto de cem anos e foi fundada por Abel Pinto Tavares.Por morte deste passou para o seu filho Júlio Pinto Tavares,que faleceu em 1971.
Quando do seu encerramento**, José Alfredo da Costa Azevedo escreveu um texto, publicado em "Obras IV-Apontamentos Vários", em que demonstra uma imensa saudade por aquele local:
"Que saudades da Camélia!
Foi nesse velho estabelecimento que adquirimos os primeiros volumes da nossa modesta biblioteca: a Morgadinha dos Canaviais, em 31 de Março de 1923, e as Pupilas do Senhor Reitor, em 14 de Abril do mesmo ano.Na primeira página de cada um, ainda se podem ver os preços escritos pelo punho do nosso querido Júlio Pinto Tavares; 5$30 a Morgadinha, e 4$30 as Pupilas.Bons tempos!Pois esses algarismos ali ficarão à laia de autógrafos."
*José Alfredo da Costa Azevedo 1907-1991
**Não foi possivel obter a data exacta do encerramento da Camélia
Foto de 1919, mostra como era o edifício da Camélia antes da ampliação.
"Primitivamente (o edifício), não tinha o aspecto actual.O prédio era só de um andar e a porta de acesso a este ficava a meio. No recanto , uma outra porta dava acesso a uma taberninha muito típica, onde não entrava toda a gente. Discretamente até fidalgos iam lá beber o seu copinho...Ao lado era a Camélia. Que tinha comunicação interna com a dita taberninha."
Nas "Obras IV-Apontamentos Vários"
Foto como se encontra actualmente o edifício da Camélia, com 3 andares -já não uma papelaria, mas uma loja de artesanato e "souvenirs".
Créditos:
Foto da Camélia e texto retirado de "ObrasIV-Apontamentos Vários" de José Alfredo da Costa Azevedo
Foto do edifício da Camélia de 1919 -Publicado na Ilustração Portuguesa nº652 de 19 de Agosto de 1919
Comentários
sintrense
sintrense
Hoje a Camélia já não vende Morgadinhas dos Canaviais, nem Pupilas do Sr.Reitor, mas permite a compra de recordações aos muitos turistas que durante todo o ano, escolhem Sintra para visitar.
Abraços
A CAMÉLIA sempre foi muito dinâmica, o Sr. Júlio Pinto Tavares, que conheci muito bem, pessoa séria, empreendedora, deu trabalho a muita gente, porque não se dedicava só à livraria e papelaria. Tinha a representação do Gás CIDLA, e da SACOR hoje GALP.
Como antigamente não havia iluminação eléctrica, nas aldeias e na maioria das povoações do concelho, então se consumia muito petróleo, daí o Sr. Tavares representante da SACOR, com um posto de abastecimento junto à Misericórdia (mais tarde propriedade do António Loureiro, e hoje desactivado), fazia distribuição do petróleo pelas mais diversas e recônditas mercearias e carvoarias do concelho com camiões cisterna preparados para o efeito. Ainda me lembro de possuir também uma loja de electrodomésticos, rudimentar no Beco da Judiaria, onde hoje está um Minimercado e, este estabelecimento teve uma razão para ser ali é que ainda havia a Pastelaria Camélia também de sua propriedade, hoje dos herdeiros do Sr. Cipriano Pacheco da Cruz, (está transformada em loja de Vinhos) e, a pastelaria tinha ligação interior com a casa do Beco, mais tarde já quando o Sr. Cipriano ficou com a Pastelaria montou ali também um Café e tasca.
A CAMÉLIA sempre teve e como escreve o Sr. José Alfredo ligação interior entre as duas lojas, na loja de baixo com o aparecimento do gás, vieram os fogões, então mais uma oportunidade de negócio que não foi negligenciada, aquele espaço foi durante algum tempo loja de fogões e outros electrodomésticos. O primeiro e único fogão que os meus pais tiveram foi um ODACLA cinzento 2 bicos e forno (tinha um coelho a roer uma cenoura no logótipo), durou mais de 35 anos e há pouco tempo ainda funcionava nas mãos de quem ficou com ele, dado por morte de minha mãe.
Dizer que foi ali que todos os meus amigos que, como eu nasceram na Vila Velha, comprámos os nossos livros escolares, lápis, canetas, borrachas, todo o tipo de cadernos. Lembrar-me que quando deixei de acreditar no Pai Natal, (3ª classe 7 anos - 1954), pedi ao meu pai para me comprar uma caneta de tinta permanente "ZAV PEN" azul, que custou salvo erro 25 Escudos, uma exorbitância já que na escola ou se usavam canetas de pau de molhar o aparo no tinteiro da carteira escolar, ou já umas de tinta permanente, baratas, que custavam 7$5O. O advento das esferográficas veio mais tarde.
Sobre a vila desse tempo ficava aqui a tarde toda, peço desculpa de me ter estendido tanto.
Cumprimentos ao autor do blogue (que acho que não conheço), mas a quem saúdo por tudo o que faz, a bem desta terra tão carenciada de quem goste verdadeiramente dela. O meu bem-haja, com um grande abraço.
Agradeço o seu comentário, que é um retrato de uma época. Pela sua importância para o conhecimento da história de Sintra, ainda não muito distante, mas substancialmente diferente dos dias de hoje.A riqueza dos pormenores no texto que fez o favor de aqui deixar, fez-me transcrever o seu excelente comentário no post que publiquei hoje:
http://riodasmacas.blogspot.com/2010/07/papelaria-camelia-na-vila-velha-ii.html
Pelo seu conhecimento de Sintra que demonstra neste comentário, e como diz "Sobre a vila desse tempo ficava aqui a tarde toda(...)", tem aqui neste blogue, se assim pretender, um espaço para utilizar, descrevendo essas histórias da Vila Velha num tempo que o seu amigo José Alfredo, tentou que não fosse esquecido com a publicação da vasta obra, que para mim é hoje a principal referência para o meu melhor conhecimento de Sintra.
O meu agradecimento pela sua visita e comentário.
Um abraço
Pedro Macieira
pedromacieira@hotmail.com
O excelente texto do comentário do Gato Preto, demonstra a importância que a Camélia teve na Vila numa época, já tão diferente daquela em que hoje vivemos.
Abraços
Pedro Macieira