O grande incêndio na Serra de Sintra em 1966
Efeméride
Testemunhos de alguns participantes no grande incêndio da serra de Sintra em 1966
"Em 6 de Setembro de 1966, dia muito quente e seco, cerca do meio-dia irrompeu um violento incêndio na zona da Tapada do Saldanha, em plena serra de Sintra. Este fogo foi inicialmente combatido pelas corporações de voluntários dos Concelhos de Sintra e Cascais, cujo material se viria a revelar insuficiente, pois não existiam auto-tanques e nem todos os veículos usados transportavam água.
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«Estávamos a actuar na estrada dos Capuchos – Portela juntamente com uma viatura do Batalhão de Sapadores Bombeiros, e o fogo subia a serra com velocidade, produzindo um som assustador, o fumo e o fogo envolviam-nos completamente, obrigando-nos a retirar – já com dificuldade – para o lado dos Capuchos, enquanto o turbilhão de labaredas atingia a estrada. Entretanto ouvimos gritos. Pensámos que, possivelmente seriam outros bombeiros em fuga no sentido da Portela»
O fogo trepou a encosta do Monge. Detiveram-no no cume. Depois de varrida essa encosta retomou-se a circulação da estrada dos Capuchos –Portela, onde vieram a ser encontradas algumas viaturas militares abandonadas, «com indícios de terem procurado inverter a marcha,se, no entanto, o terem conseguido. Só mais tarde, se descobriram – a meia encosta –os corpos dos cerca 25 soldados do R.A.A.F de Queluz, os quais viemos mais tarde a saber, eram as guarnições das viaturas abandonadas. Vinha a caminho e ficaram encurralados pelo fogo»
"Morris Commercial" do Bombeiros Voluntários de Almoçageme
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Os Bombeiros de Almoçageme, presentes desde a primeira hora, continuavam a combater as labaredas na área da Quinta da Marquesa, com todo o seu material disponível, o qual se resumia, aliás ao velho auto-tanque-pronto de socorro “Morris Commercial”, ao pronto socorro “Ford”, ao “Land Rover” com uma moto- bomba pesada e à galera “Austin”
"Cem anos ao serviço da Comunidade 1895-1995" de Maria Teresa Caetano
"Studebaker", dos Bombeiros Voluntários de Colares
"A actuação dos Bombeiros Voluntários de Colares começou logo no dia 6, a pedido dos Bombeiros Voluntários de S.Pedro de Sintra.
O nosso Studebaker, um carro a gasolina conduzido em determinada altura pelo então Presidente do nosso Conselho Fiscal, Fortunato dos Santos Limpo, ficou de súbito completamente cercado pelo fogo, na zona da Lagoa Azul, e só o sangue-frio do condutor, aliado a muita sorte, permitiram que saísse incólume daquele inferno.
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Sexta-feira 9 de Setembro de 1966
Avionetas sobrevoavam a serra de Sintra procurando localizar novos focos.Só a encosta da Malveira e a Tapada do Mouco continuavam a arder. Em Lisboa, a esta hora, vinte e cinco militares vão a enterrar. Toda a Sintra vive e lamenta esta perda. Por todo o lado semblantes carregados, olhos húmidos e encovados. Pela tarde, novo nos Capuchos. O auto-tanque de prevenção na Pena vem acabar com com o fogo. A grande maioria das corporações de voluntários volta às suas terras. Restam os Sapadores e os Voluntários dos Concelhos de Sintra, Cascais e Oeiras. A situação começa a normalizar."
"Cem anos Fazendo o Bem " 1890-1990, de António Caruna
Posto de Socorro Móvel dos Bombeiros Voluntários LisbonensesBombeiros Voluntários Lisbonenses
6 de Setembro de 1966
Grande incêndio da Serra de Sintra, de 6 a 12 de Setembro, totalizando 136 horas de trabalho. Foi utilizado todo o equipamento, incluindo o grupo de moto-bombas. Todo o corpo activo em turnos de 12 horas, garantiu as missões de socorro, pelo que os Lisbonenses receberam como missão a defesa de vários locais na serra. Foi montado o Posto de Socorro Móvel, que prestou inestimáveis serviços de assistência.
"Cem anos 1910- 2010" A.H. dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses
Créditos:
Foto p/b do incêndio da serra de Sintra retirada do blogue Fogo&História
- "Cem Anos ao Serviço da Comunidade" 1895-1995 A.H.B.V.Almoçagemeda autoria de Maria Teresa Caetano
-"Cem Anos Fazendo o Bem" 1890-1990, A.H.B.V.Colares da autoria de António Caruna
-"Cem Anos" 1910- 2010 da A.H.B.V.Lisbonenses
Comentários
Tinhamos acabado de chegar, de uma semana de férias após termos feito a recruta, e jurarmos bandeira, onde durante esse tempo treinamos até à exaustão tudo o que à disciplina militar dizia respeito. Passei por um Major e não lhe fiz contiñência, e isso deu-me direito a oito dias de dispensas cortadas, precisamente durante o tempo em que a minha terra ardia.
Nós só sabiamos pela rádio, e pela tv, aquilo que o regime deixava. Telefones nem pensar uma chamada da OTA, para Sintra era preciso ir à central telefónica, marcar a hora da chamada inter-urbana, e muitas vezes só se realizava no dia seguinte, e para o bolso de um militar era caro.
Para mim foram uns dias terriveis não sabia nada da minha família, nem da minha namorada hoje minha mulher, com quem casei um ano depois em 10/9/67.
Eles nos dias de avião "NORD ATLAS", vindo de Luanda iam buscar sobretudo correio com destino ao Batalhão, vinham ao Aerodromo de Manobra de Maquela do Zombo, onde estive destacado. Um dia em conversa eu disse que era de Sintra, eles ficaram quase com os cabelos em pé, só com o nome de Sintra e pela lembrança dos colegas caídos no fogo da serra.
Recordo-me sim, outros dois de grandes proporções, julgo que em 81 e 89 e a partir tem tido uma vigilância bem apertada.
Adorei ler esta homenagem a quem perdeu a vida na defesa de um património que é de todos e que nem todos respeitam.
Já passei por vários outros fogos mas as recordações mais fortes são calor e sobretudo o barulho do pinhal a arder.
Cinzas envolviam tuso e até pequenas achas a arder caiam Praia Grande.
Não se esquece o pavor desses dias.
sintrense
ereis
Pior, ou igual, sei lá, só quando foi o descarrilamento dos comboios na Portela. E, nessa altura, eu vivia lá, na Portela, na Vivenda Mimosa (ao ado da Bella) que já não existe.
Sintra dos meus encantos, das minhas tristezas (e alegrias), das minhas recordações!
Obrigada, Pedro!