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Foto Círio do Litoral Colarense.(foto:Pedro Macieira)

Tendo decorrido em Colares e Azenhas do Mar no dia 2 de Junho uma manifestação religiosa denominada “Círio do Lítoral Colarense em honra de S.Lourenço”, efectuada pela primeira vez, não tendo portanto historial, será oportuno analisar embora de forma sintética o que alguns autores que estudaram este tipo de eventos terão escrito sobre as suas origens e tradição.


O Círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel que percorre várias paróquias sintrenses é uma tradição secular,segundo Manuel J.Gandra” a romaria popular e a peregrinação religiosa dos Círios constituir-se-iam como última reminiscência e mais longíncua memória do acontecimento geográfico-natural que tradicionalmente se designa pelo dito afundamento do continente Atlante ou da Atlântica..”

Neste sentido, e segundo Manuel J.Gandra os “Círios do cabo”, como o “devotado por Sintra, com o nome de Nossa senhora do Cabo Espichel, partilhado desde o século XV pelas populações costeiras entre o Cabo Espichel e o Cabo da Roca, estatuir-se-iam como memória religiosa daquele trágico acontecimento, não do afundamento de um continente, como até há pouco se pressupunha quando se falava da Atlântica, mas da submersão de centenas de quilómetros da zona costeira europeia por uma onda gigantesca, igualmente com profundas consequência no Mediterraneo.Há cerca de10000 anos, nível do Oceano Atlântico, encontrar-se-ia a uma quota “inferior ao actual de mais de uma centena de metros”,permitindo a passagem, ilha a ilha entre a Europa eo continente americano.(...)”

Este cenário terá sido alterado, segundo o autor por um impacto de um cometa, em pleno atlântico, “o que terá causado um aquecimento global do planeta, provocando uma deglaciação abrupta e um súbito, e inesperado e devastador dilúvio, em virtude da devolução aos oceanos das águas retidas nos glaciares.”

Como resultado desta alteração planetária ,”as populações sobreviventes na sua mentalidade evemerista* teriam passado a adorar, sobretudo nas zonas geográficas de cabos peninsulares, onde a terra penetra mar a dentro, tanto um conjunto de divindades maritimas, como a memória dos seus antepassados tragados pela águas.sintomáticamente, no caso do Círio de N.Senhora do Cabo Espichel, a divindade primitiva adorada (uma “Virgem Negra”, segundo Manuel Gandra) designava-se primitivamente como Nossa Senhora da Pedra da Mua, que não terá a ver com a
mula **que transportava a imagem peregrina de N.senhora mas com o étimo*** egípcio “Mu”.
Os povos da serra de Sintra (alcabideche) e da Serra da Arrábida (Caparica) ter-se-iam unido na adoração de uma entidade mítica primitiva de que, após cristianização da Península Ibérica N.Senhora do Cabo se tornou descendente.


Vitor Manuel Adrião, considera que “Círio Votivo ou Giro seria já cardápio do Culturísmo do Saloio moçárabe ao tempo da Ocupação árabe, cuja lei era permissiva e não repressiva da Fé cristã”.


O “giro” do Círio de N.Senhora do Cabo espichel iniciado em 1430, protegido pelos reis de Portugal desde 1849.

. Teresa Marques Alves ,considera que “Um Círio é por definição uma manifestação religiosa de forte cariz popular que se traduz em romagens cíclicas, de uma ou mais povoações , a santuários , passando por vários lugares em cortejo.(...) Círios são manifestações essencialmente estremenhas: temos como exemplos o Cirio de Nossa Senhora do Cabo Espichel, o de Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora da Atalaia, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora da Peninha e o Círio de Nossa Senhora da Penha de França.”


O Círio de Nossa Senhora da Praia que nasceu em 1897,por iniciativa de Alfredo Keil e foi efectuado pela última vez em 1944, tinha o seu inicio na Vila de Colares para as Azenhas do Mar.
Também José Alfredo Azevedo, abordou o tema do Círio da Praia das Maçãs , reportando que nesse ano (1897)“Para além das cerimónias tradicionais meteu um galeão que “navegou” em terra puxado por duas juntas de bois, conduzido a banda dos Voluntários de Colares”mas em “1898 a coisa não correu da melhor maneira.Embora com três círios, de Colares,Sintra e Almoçageme,Alfredo Keil, por razões que não consegui apurar, não franqueou a sua capela.Logo os festeiros resolveram construir outra, em terreno oferecido pelo padre Matias del Campo, no outro lado do areal, na eminência conhecida por Ponta da vigia.Chegou a ser anunciado o início das obras, mas a capela que seria da mesma invocação, nunca foi construida.”

No texto,publicado nas “Loas” da autoria de Maria Teresa Caetano do mais recente círio , o Círio do Litoral Colarense em honra de S.Lourenço” organizado pela Associação dos Bombeiros voluntários de Colares e do CEDCRAM-Centro Educativo das Azenhas do Mar, em 2 de Julho de 2006, é descrito que,” Os círios surgiram assim vinculados a irmandades e/ou comissões de festeiros que se empenhavam em garantir a continuidade da tradição, cuja génese é hoje muito dificil de determinar sendo notável porém, a sua estreita relação com a finisterra ocidental, porquanto quase todos eles , organizados segundo regras ancestrais e percorrendo sempre os mesmos itinerários, se encaminhando até à beira-mar(...)”

“Os Círios assumiram-se , pois como activos mágico-simbólicos, e para além de agirem como catalizadores sociais e religiosos evoluiram segundo as necessidades próprias das comunidades quer acrescentando novos episódios (...),tudo isto de forma a melhor se contextualizar também o momento histórico vivenciado pelos seus actores.”


*evemerismo-Sistema filosófico dos que sustentam que os deuses foram personagens humanas, divinizadas pelos homens .

** Versão tradicional “No século XIII, o local foi muito popular junto dos peregrinos, depois de um homem ter tido uma visão de Nossa Senhora que surgia do mar numa mula. A lenda diz que as pegadas da mula podem ser vistas nas rochas. Em homenagem à Virgem, foi edificada, nesse mesmo local, uma ermida a que chamaram “Pedra Mua”.
Explicação da origem da lenda segundo Vitor Manuel Adrião,” , a existência de diversas pistas de dinossáurios, com maior realce nas escarpas da enseada da praia dos Lagosteiros, pretexto para as pegadas deixadas na Pedra de Mua pela burrinha (mula ou muar) que transportou a Senhora encosta acima,10 transpondo-se assim o óbvio geológico para a maior valia da aparição sobrenatural da Virgem, o que recata à finalidade consagratória desse mais um finis-terrae ou lugar sagrado”
***étimo-vocábulo que é de origem imediata de outro

Fontes :
-“Jornal de Sintra” 7 de Julho 2006-Círio do Litoral Colarense , Graça Pedroso
-“Loas” Círio do Litoral Colarense em honra de S.Lourenço –Maria Teresa Caetano
-“Jornal da Região” de 13 Fevereiro de 2002- O Círio de Nossa Srª da Praia, Teresa Marques Alves
-“Jornal de Sintra” 19 de Maio 2006-07-18- O Círio de N.Srª do cabo Filomena Oliveira/Luis Martins
-“ Diário Noticias “7 de Abril 1990 - Sintra Morada de Deuses , Antónia de Sousa /.M.J.Gandra
-O Giro do Círio dos Saloios , Vitor Manuel Adrião para ver texto integral pressionar aqui

-Obras de José Alfredo da Costa Azevedo –III

-Círio do litoral Colarense-saber mais –pressionar aqui

-Círio da Nossa senhora da Praia de 1879 –saber mais –pressionar aqui

Círio da Nossa Senhora da Praia –alfredo Keil saber mais –pressionar aqui

Comentários

Anónimo disse…
Pelo que sei, o Círio Litoral Colarense já tinha sido realizado algumas vezes, tendo sido a última há cerca de 70 anos, do qual existe inclusivé um filme reportando a ocasião.
Isabel Roma
pedro macieira disse…
De facto não encontrei registo da realização , do Círio Litoral Colarense
em data anterior ao que se realizou este ano, e o facto se ter realizado o ultimo Círio da Praia das Maçãs em 1944 determinou a minha conclusão, e esse é a informação que consegui recolher, mas desde já agradecendo a sua participação , irei investigar o assunto de forma a não haver qualquer incorrecção no meu post.
Anónimo disse…
Assisti ao Círio Colarense e gostei muito, nunca tinha visto, pois tive casa nas Az. do Mar de 1981 a 1997 só em 1999 mudei para a P. das Maçãs.
Também as Azenhas fizeram as delicias dos meus filhos.
Cumprimentos
Teresa C.
pedro macieira disse…
Teresa C.
Agradeço o seu comentário.
Um abraço

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