Capela Circular de S. Mamede de Janas e o culto de Diana
Capela Circular de S.Mamede de Janas
Extracto de “VESTÍGIOS DO CULTO DE DIANA EM PORTUGAL” da autoria do Dr. Fernando Castelo-Branco (...)Em diversas cerimónias religiosas, ainda hoje praticadas no nosso país, se podem assinalar vestígios e sobrevivências desse culto pagão. Uma superficial e rápida pesquisa revelou-nos imediatamente a existência de várias festividades religiosas em que a influência desse antigo culto é manifesta, sendo evidente que devemos estar perante casos de cristianização de cultos pagãos, neste particular, do culto de Diana.
…………………………………………pela qual se vê que protegia também os animais ligados com ávida agrícola. A principal festa em sua honra tinha lugar nos idos de Agosto, isto é, no dia 13.
Muito significativo é ainda o facto do culto de S. Mamede, em Janas, e com as actuais características, ser deveras antigo, podendo documentar-se a sua existência em épocas recuadas. Assim um trecho da obra de D. Francisco Manuel de Melo, datada de 1657, que ainda não vimos evocada até agora a este propósito, é concludente. Escreveu o grande polígrafo seiscentista: «Porem agora, que huma Corte tão luzida, como a da nossa Lisboa; a qual não há inveja a nenhuma Christandade, vos anda à roda sempre, como gado vacum, em torno da Ermida de S. Mamede, que podeis envejar que não seja vicio?»
Temos portanto que, em pleno século XVII, o culto a S. Mamede, em Janas, era deveras semelhante ao que ainda aí se pratica nos nossos dias. E mais ainda: um documento do século XV prova-nos que nessa época era S. Mamede o patrono dos gados, especialmente vacum, e que na capela de Janas os lavradores pagavam muitas promessas pela protecção dispensada por esse Santo aos seus animais: «no termo da dicta ujlla (de Sintra) há huua ermjda do orago de sam Mamede (…) a quall ermjda he de tanta deuoçom que uem asy a ella em Romajem muyta gente do termo da dicta ujilla como dos outros lugares e termos em os quaaes que per suas deuaçoees hofereçem ally seus gaados e mujtos delles em louuor de Deus e do dicto santo por seus gaados Receberem saúde qua… quer boy ou uaqua he em seu termo o oferecem… santo nesta maneira que Recebendo saúde o dicto boy ou uaqua que os dictos seus donos se syruam delles atee os ditos gaados não serem pêra serujr e depojs do dicto tempo os darem ao dicto santo». (...)
Extracto de “VESTÍGIOS DO CULTO DE DIANA EM PORTUGAL” da autoria do Dr. Fernando Castelo-Branco (...)Em diversas cerimónias religiosas, ainda hoje praticadas no nosso país, se podem assinalar vestígios e sobrevivências desse culto pagão. Uma superficial e rápida pesquisa revelou-nos imediatamente a existência de várias festividades religiosas em que a influência desse antigo culto é manifesta, sendo evidente que devemos estar perante casos de cristianização de cultos pagãos, neste particular, do culto de Diana.
Uma das mais curiosas dessas festividades e que melhor evidencia a sobrevivência do culto da deusa é a de S. Mamede de Janas. Trata-se duma romaria que se realiza na ermida de S. Mamede, na povoação de Janas, a cerca de 3,5 k. ao norte de Colares, nos dias 15 e 16 de Agosto de cada ano. Os lavradores da região, e mesmo das zonas mais afastadas, como por exemplo de Torres Vedras, aparecem aí nesses dias, acompanhados do seu gado – bois, burros e cavalos – e até de animais domésticos. Chegam em geral pela manhã, dão três voltas à igreja no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio e vão depois descansar. Antigamente entravam mesmo dentro da igreja com o gado.
À tarde fazem o pagamento das promessas e recebem então as fitas coloridas com que enfeitam o gado e o ex-voto que vão colocar junto da imagem de S. Mamede.
Estes pormenores coincidem extraordinariamente com as características do culto de Diana. Esta deusa, filha de Júpiter, recebeu de seu pai, juntamente com Febo, o domínio das florestas e dos bosques:
«Phoebe, silvarumque potens Diana,
lucidum coeli decus,……………….
(Febo, e tu Diana, rainha das Florestas, glória brilhante do céu…)
À tarde fazem o pagamento das promessas e recebem então as fitas coloridas com que enfeitam o gado e o ex-voto que vão colocar junto da imagem de S. Mamede.
Estes pormenores coincidem extraordinariamente com as características do culto de Diana. Esta deusa, filha de Júpiter, recebeu de seu pai, juntamente com Febo, o domínio das florestas e dos bosques:
«Phoebe, silvarumque potens Diana,
lucidum coeli decus,……………….
(Febo, e tu Diana, rainha das Florestas, glória brilhante do céu…)
Aparece-nos como uma divindade ligada às florestas, à caça e protectora dos animais . E uma inscrição de Sagunto refere-se a
DIANAE MAXIMAE
VACCAM OVEM ALBAM PORCAM
…………………ONS…………………
................DIANAE MAXIMAE
VACCAM OVEM ALBAM PORCAM
…………………ONS…………………
…………………………………………pela qual se vê que protegia também os animais ligados com ávida agrícola. A principal festa em sua honra tinha lugar nos idos de Agosto, isto é, no dia 13.
Muito significativo é ainda o facto do culto de S. Mamede, em Janas, e com as actuais características, ser deveras antigo, podendo documentar-se a sua existência em épocas recuadas. Assim um trecho da obra de D. Francisco Manuel de Melo, datada de 1657, que ainda não vimos evocada até agora a este propósito, é concludente. Escreveu o grande polígrafo seiscentista: «Porem agora, que huma Corte tão luzida, como a da nossa Lisboa; a qual não há inveja a nenhuma Christandade, vos anda à roda sempre, como gado vacum, em torno da Ermida de S. Mamede, que podeis envejar que não seja vicio?»
Temos portanto que, em pleno século XVII, o culto a S. Mamede, em Janas, era deveras semelhante ao que ainda aí se pratica nos nossos dias. E mais ainda: um documento do século XV prova-nos que nessa época era S. Mamede o patrono dos gados, especialmente vacum, e que na capela de Janas os lavradores pagavam muitas promessas pela protecção dispensada por esse Santo aos seus animais: «no termo da dicta ujlla (de Sintra) há huua ermjda do orago de sam Mamede (…) a quall ermjda he de tanta deuoçom que uem asy a ella em Romajem muyta gente do termo da dicta ujilla como dos outros lugares e termos em os quaaes que per suas deuaçoees hofereçem ally seus gaados e mujtos delles em louuor de Deus e do dicto santo por seus gaados Receberem saúde qua… quer boy ou uaqua he em seu termo o oferecem… santo nesta maneira que Recebendo saúde o dicto boy ou uaqua que os dictos seus donos se syruam delles atee os ditos gaados não serem pêra serujr e depojs do dicto tempo os darem ao dicto santo». (...)
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