Ainda sou do tempo do eléctrico chegar à Vila Velha
(Foto do eléctrico em plena Vila Velha)
O que nós fazíamos, sem estragar nada evidentemente, mas fazíamos tropelias de miúdos.
Os eléctricos para a Vila não tinham atrelados, só funcionavam no Verão e eram quase sempre os fechados, de vez em quando lá vinha um aberto. Os bancos corridos, são amovíveis e mudam de posição consoante o percurso. Chegavam à Vila numa posição depois havia que mudar os bancos para as pessoas não irem de costas para o destino. Se o guarda-freio ou o cobrador não estava por perto, a criançada ia lá e trocava tudo outra vez. Os eléctricos têm uma alavanca para sair areia quando há falta de tracção, nós conheciamos as manhas todas, e lá iamos nós puxar a alavanca, ficava a linha com um monte de areia.
Também fazíamos uma fila de caricas dos refrigerantes sobre a linha para quando o elétrico passasse, as fizesse numa chapa redonda para as nossas brincadeiras.
Curiosamente não me lembro de nenhum guarda-freio,ou cobrador daqueles que maltratam crianças ou fossem mais severos, eles perante os factos, entendiam a criançada e não me lembro de ninguém ter sido maltratado. Tinham isso sim sempre o cuidado de retirar a manivela que coloca a máquina em andamento, os carros estavam bem travados, e em segurança.
O eléctrico faz parte, da infância dos sintrenses como eu, quem não é de cá é que deve ter muitos pruridos, pela sua presença e existência. Nem tudo deve ser considerado para dar lucro. Que diabo vejo tanta coisa camarária desperdiçada, alguns "gamanços" aí à vista de qualquer cego, e para poupar dinheiro, que acho muito bem que se poupe, é o eléctrico que vai pagar as favas?
Espero que começe já a funcionar, e a transportar as crianças das Escolas Primárias do Concelho, para a Praia das Maçãs como se fazia no meu tempo, e penso que ainda se faz, a partir do mês que vem!
Título do post e texto de Carlos José dos Santos (Caínhas)
Comentários
sintrense
Mas não sou do tempo em que o eléctrico chegava à Vila. Mas tenho pena...
O desenho está lindo! Parabéns, ó artista!
E havia as paragens, às vezes longas, durante o trajecto, para o cruzamento de composições.E havia o "gamanço" de alguma fruta ali mesmo "à mão de a apanhar" enquanto esperávamos seguir viagem.
Às vezes íamos "a nove" e foi aí que aprendi que queria dizer bem depressa. E o nove, era o ponto máximo da manivela do guarda-freio.
Vou voltar ao eléctrico. Tem que ser dos abertos, com o vento a bater na cara...
Eu do alto dos meus sessenta e quatro anos, vividos sempre em Sintra com excepção do tempo da Guerra Colonial, a memória ainda está bem fresca para algumas coisas, e, quando comento só tento acrescentar pela positiva.
Por vezes "estico um bocadinho o cordel", leia-se escrita, pelo que peço que me desculpem se sou maçador.
O Eléctrico deixou de ir à Vila Velha por alturas da alteração da estrada antiga da Volta do Duche, uma estrada estreita, cujo piso era do mesmo material com que foi feito o troço do auto-estrada Lisboa-Estádio Nacional, se os antigos se recordarem era um piso tipo betonado, feito em placas, bem diferente do alcatrão, a Volta do Duche foi o teste a esse tipo de piso.
Era uma estrada com um muro com bancos embutidos, daqueles que só dá para sentar uma pessoa em frente da outra, e tinha azuleijos com motivos da região saloia. Antes do portão do parque no sentido Estefânia-Vila, havia uma casa de Chá.
Nas imediações onde está o chafariz Mourisco, (autoria do Escultor José da Fonseca), funcionava a abegoaria da Câmara, onde se guardavam todas as carroças, e alguns carros (poucos) da Câmara. Antes de ir abaixo, ainda funcionou durante muito tempo a "Sopa dos pobres". Foi bem tirado aquilo dali, porque não era nada edificante, nem funcional na actualidade, e está muito melhor como está hoje.
Agora já não há quase habitantes na Vila Velha, mas pelo caminho que isto está a tomar, se calhar ainda vão ter que abrir a sopa dos pobres!...
Parece que, apesar dos sessenta e cinco,no meu tempo o eléctrico já não chegava à Vila.