Tapada D.Fernando II-a resposta da PSML
Tapada D.FernandoII, em 8 de Agosto de 2007
Face aos nossos pedidos de informação, sobre a intervenção que está a ocorrer na Tapada D.Fernando II, recebemos hoje a resposta da PSML, que passamos a trancrever:
Exmº Senhor...
Venho, por este meio, responder ao seu mail de 8 de Agosto sobre a preocupação que os trabalhos florestais em curso no Convento dos Capuchos e nas tapadas de D. Fernando II e de Monserrate, lhe suscitaram.
1. Saliento, em primeiro lugar, que nos agrada registar que as actividades que desenvolvemos são identificadas e acompanhadas por quem se interessa pelo património de Sintra, e reconheço que deveríamos dar mais atenção à informação que prestamos a qual, face às suas dúvidas, foi certamente insuficiente.
Em consequência, decidimos já colocar nos locais painéis explicativos dos trabalhos que estamos a desenvolver e que não são, de modo algum, de “desflorestação” ou de “abate de árvores centenárias”, como passo a explicar.
2. Como sabe, a Serra de Sintra, inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais, é considerada Zona Crítica de Incêndios (recordem-se os de 1966, 1979 e 1991). Após estes grandes incêndios, as espécies invasoras disseminaram-se por toda a Serra. Estas espécies tem uma ecologia de fogo associada, isto é propagam-se mais facilmente após a ocorrência do fogo.
As áreas do Convento dos Capuchos e Tapada D. Fernando II foram severamente afectadas. E excluindo um núcleo de vegetação autóctone na envolvente do Convento, todo o seu ecossistema foi fortemente afectado pelo domínio das espécies invasoras, a mais relevante das quais, pela sua agressividade e dominância, é a acácia (Acacia sp. ). Esta espécie concorre pelo mesmo espaço e luz com as espécies autóctones e estas, normalmente, perdem a seu favor. Outras espécies invasoras estão presentes: Pittosporum undulattum (pitósporo); Robinia pseudoacacia (robinia); Hakea salicifolia; Aillanthus altissima (ailanto).
À medida que as espécies invasoras avançam na Serra de Sintra, por abandono ou insuficiente gestão, diminui a biodiversidade do Parque Natural de Sintra-Cascais. A gravidade desta ameaça ambiental levou a publicação do Decreto - Lei 295/99 de 1999/12/21.
Não foram abatidas árvores centenárias porque as invasoras que foram removidas resultam dos incêndios acima referidos. É, ainda de referir, que estás espécies têm elevadas taxas de crescimento, a que corresponde um elevado consumo de água, resultando exemplares de grande porte.
Diminuir o risco de incêndio é uma obrigação legal de qualquer proprietário de uma floresta (Dec. Lei nº. 124/2006 de 28/6. - Artº. 15), e controlar a expansão das espécies invasoras faz parte obrigatória da boa gestão do património natural, em particular do tão relevante património à nossa guarda.
A silvicultura preventiva, isto é, a execução de acções de corte de vegetação eliminando a continuidade dos combustíveis com vista à diminuição do risco de incêndio, deve ser a resposta principal em áreas com elevado risco como é a Serra de Sintra.
As zonas de maior risco de incêndio são as confinantes com a rede viária e caminhos, pelo que devem ser preferenciais na execução de acções de silvicultura preventiva.
Na Tapada D. Fernando II, a intervenção que vimos desenvolvendo consiste na redução do coberto florestal no perímetro da propriedade e nas margens dos caminhos, eliminando as espécies invasoras e retirando árvores e ramos de risco para salvaguarda de pessoas e bens.
No Convento dos Capuchos, a intervenção consiste em remover as espécies invasoras, remover árvores e ramos de risco e retirar lenhas caídas.
Na Tapada de Monserrate, para a qual está a ser desenvolvido um Projecto de Beneficiação Florestal ao abrigo do Programa AGRO, as acções consistem na remoção da vegetação invasora, no desbaste do pinhal e na beneficiação de caminhos florestais.
As áreas sujeitas a controlo de espécies invasoras serão sujeitas a rearborizações com espécies autóctones.
Todas estas acções estão autorizadas e são acompanhadas pelo Parque Natural de Sintra-Cascais.
É ainda de salientar que iniciámos durante este ano a produção de espécies autóctones com recurso ao germoplasma de exemplares existentes no Parque de Monserrate, como é o caso dos sobreiros. Esta produção, que é facultada aos visitantes dos Parques Históricos, pode vir a ser incrementada e usada nas rearborizações.
3. Não há ainda implantado na zona nenhum esquema de aproveitamento da biomassa resultante dos cortes, pelo que os ramos e folhas são estilhaçados e ficam no local, para reposição de nutrientes e cobertura do solo, e os troncos saem, para queima, de acordo com o contrato estabelecido com o adjudicatário de alguns dos trabalhos.
4. Esperando que esta informação lhe permita compreender que o que estamos a fazer é o que deve ser feito e não, como teme, “ um enorme erro”, fico ao dispor para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que possam evitar outros receios infundados.
Com os melhores cumprimentos,
Jaime Ferreira,
Director Técnico da PSML,
Licenciado em Engenharia Florestal
Venho, por este meio, responder ao seu mail de 8 de Agosto sobre a preocupação que os trabalhos florestais em curso no Convento dos Capuchos e nas tapadas de D. Fernando II e de Monserrate, lhe suscitaram.
1. Saliento, em primeiro lugar, que nos agrada registar que as actividades que desenvolvemos são identificadas e acompanhadas por quem se interessa pelo património de Sintra, e reconheço que deveríamos dar mais atenção à informação que prestamos a qual, face às suas dúvidas, foi certamente insuficiente.
Em consequência, decidimos já colocar nos locais painéis explicativos dos trabalhos que estamos a desenvolver e que não são, de modo algum, de “desflorestação” ou de “abate de árvores centenárias”, como passo a explicar.
2. Como sabe, a Serra de Sintra, inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais, é considerada Zona Crítica de Incêndios (recordem-se os de 1966, 1979 e 1991). Após estes grandes incêndios, as espécies invasoras disseminaram-se por toda a Serra. Estas espécies tem uma ecologia de fogo associada, isto é propagam-se mais facilmente após a ocorrência do fogo.
As áreas do Convento dos Capuchos e Tapada D. Fernando II foram severamente afectadas. E excluindo um núcleo de vegetação autóctone na envolvente do Convento, todo o seu ecossistema foi fortemente afectado pelo domínio das espécies invasoras, a mais relevante das quais, pela sua agressividade e dominância, é a acácia (Acacia sp. ). Esta espécie concorre pelo mesmo espaço e luz com as espécies autóctones e estas, normalmente, perdem a seu favor. Outras espécies invasoras estão presentes: Pittosporum undulattum (pitósporo); Robinia pseudoacacia (robinia); Hakea salicifolia; Aillanthus altissima (ailanto).
À medida que as espécies invasoras avançam na Serra de Sintra, por abandono ou insuficiente gestão, diminui a biodiversidade do Parque Natural de Sintra-Cascais. A gravidade desta ameaça ambiental levou a publicação do Decreto - Lei 295/99 de 1999/12/21.
Não foram abatidas árvores centenárias porque as invasoras que foram removidas resultam dos incêndios acima referidos. É, ainda de referir, que estás espécies têm elevadas taxas de crescimento, a que corresponde um elevado consumo de água, resultando exemplares de grande porte.
Diminuir o risco de incêndio é uma obrigação legal de qualquer proprietário de uma floresta (Dec. Lei nº. 124/2006 de 28/6. - Artº. 15), e controlar a expansão das espécies invasoras faz parte obrigatória da boa gestão do património natural, em particular do tão relevante património à nossa guarda.
A silvicultura preventiva, isto é, a execução de acções de corte de vegetação eliminando a continuidade dos combustíveis com vista à diminuição do risco de incêndio, deve ser a resposta principal em áreas com elevado risco como é a Serra de Sintra.
As zonas de maior risco de incêndio são as confinantes com a rede viária e caminhos, pelo que devem ser preferenciais na execução de acções de silvicultura preventiva.
Na Tapada D. Fernando II, a intervenção que vimos desenvolvendo consiste na redução do coberto florestal no perímetro da propriedade e nas margens dos caminhos, eliminando as espécies invasoras e retirando árvores e ramos de risco para salvaguarda de pessoas e bens.
No Convento dos Capuchos, a intervenção consiste em remover as espécies invasoras, remover árvores e ramos de risco e retirar lenhas caídas.
Na Tapada de Monserrate, para a qual está a ser desenvolvido um Projecto de Beneficiação Florestal ao abrigo do Programa AGRO, as acções consistem na remoção da vegetação invasora, no desbaste do pinhal e na beneficiação de caminhos florestais.
As áreas sujeitas a controlo de espécies invasoras serão sujeitas a rearborizações com espécies autóctones.
Todas estas acções estão autorizadas e são acompanhadas pelo Parque Natural de Sintra-Cascais.
É ainda de salientar que iniciámos durante este ano a produção de espécies autóctones com recurso ao germoplasma de exemplares existentes no Parque de Monserrate, como é o caso dos sobreiros. Esta produção, que é facultada aos visitantes dos Parques Históricos, pode vir a ser incrementada e usada nas rearborizações.
3. Não há ainda implantado na zona nenhum esquema de aproveitamento da biomassa resultante dos cortes, pelo que os ramos e folhas são estilhaçados e ficam no local, para reposição de nutrientes e cobertura do solo, e os troncos saem, para queima, de acordo com o contrato estabelecido com o adjudicatário de alguns dos trabalhos.
4. Esperando que esta informação lhe permita compreender que o que estamos a fazer é o que deve ser feito e não, como teme, “ um enorme erro”, fico ao dispor para o esclarecimento de quaisquer dúvidas que possam evitar outros receios infundados.
Com os melhores cumprimentos,
Jaime Ferreira,
Director Técnico da PSML,
Licenciado em Engenharia Florestal
Posição do Instituto de Conservação da Natureza:
-Informação do ICN sobre a Tapada D.Fernando II, publicada hoje no "Alvor de Sintra"-aqui
Comentários
A explicação é muito «bonita e certinha», se, na realidade, correspondesse ao que está a acontecer. Sou engenheiro, mas não agrónomo; contudo, ainda sei perfeitamente distinguir um cepo de acácia de um de cedro. E o que me tem chocado é o abate de cedros e pinheiros de grande porte.
É bem possível que quem escreveu a resposta à sua missiva não tenha consciência plena do que se está a passar. É que o abate continua, não só na Serra de Sintra como noutros parques naturais (os abates na Serra da Estrela não foram sequer de acácias ou de pitósporos, foram de pinheiros e carvalhos).
Só se estão a aplicar a máxima de George W. Bush: «se não houver árvores, não há incêndios»... (por acaso até há; quem viveu na antiga África Portuguesa conhece muito bem a realidade dos incêndios de mato ou capim).
As palavras apaziguadoras da resposta ainda me levantam mais dúvidas quanto à evidência do que está a acontecer. Acho muito bem que se retirem as espécies invasoras, mas está-se a assistir a uma verdadeira desertificação.
Bom, de qualquer modo, responderam-lhe, o que é de louvar nesta sociedade embrutecida.
Um abraço e boa luta!
Vamos por partes:
a. Ninguém coloca em causa a necessidade de ser trabalhar no sentido de reduzir a possibilidade de incêndios na Serra. Sou apologista da máxima "é melhor prevenir do que remediar". O que se passa é todavia bem diferente: trata-se de um abate massivo de árvores, contrariando o princípio da poda e abate limitada ao mínimo indispensável, com enorme impacto naquela zona.
b. Ainda ninguém garantiu que naquela área não será construída a zona de lazer de que se fala, a qual seria muitíssimo prejudicial para a Tapada, o Convento e aquela área da Serra. Estará o Eng.º em condições de o garantir? Se sim, fiaria bem mais descansado.
c. Não houve resposta relativamente à empresa Sequoia Verde nem à sua intervenção neste processo.
Seria entretanto bom que a PSML fosse adiantando resposta relativamente aos trabalhos previstos no Plano de Gestão da Paisagem Cultural, no espaços sob sua tutela. Alguns desses trabalhos (bem imporatantes e na zona dos Capuchos) estão previstos até ao final de 2007, não existindo orçamento previsto para 2008 e 2009. A PSML terminará essas intervenções a tempo? Aliás, já as iniciou?
Mesmo admitindo que as verbas possam transitar de um ano para o outro, parece-me que a PSML está há tempo demais nos Parques, apresentando trabalho a menos...
Não foi insuficiente, foi nula, e só respondeu a parte das questões que lhe foram colocadas depois de algumas insistências e ameças O QUE É MUITO NEGATIVO PARA A SUA IMAGEM.
Quanto à guerra contra as acácias, face à grande dificuldade que se sabe haver no seu controlo e erradicação, algumas coisas importantes ficaram também por responder à opinião pública (sobretudo, aqueles que o ponto 1 do esclarecimento da P.S.M.L., com alguma hipocrisia, aponta como interessados pelo património de Sintra, e somos muitos):
- Que planos tem a P.S.M.L., além do corte agora efectuado, para que possa ser eficaz, e sistemática, a sua erradicação?
Será que os painéis explicativos que o Eng.Jaime Ferreira diz SÓ AGORA irem ser colocados vão conter essa informação?
E porque não ter começado primeiro, por exemplo, pelo Parque da Pena,(o perigo de fogo também lá existe e não seria a primeira vez) onde, além das infestantes, tantas árvores caídas e apodrecidas existem?
Emília Reis
Rui Vasco Silva
Todas estas participações serão sem dúvida muito úteis para o acompanhamento da intervenção da PSML no património natural da serra de Sintra, sublinhando o aspecto positivo da resposta da PSML, através do Engº Jaime Ferreira,e o aspecto menos positivo da posição da Quercus, que parece distante do problema, e do silêncio total da Associação Olho Vivo.
-Em entrevista ao Alvor de Sintra em 7/8/2007 o engº Jaime Ferreira director técnico para a área de floresta jardins e obras do PSML, era explicado que
“a madeira abatida nas várias zonas tem como destino a produção de energia através de biomassa. Na tapada e na zona envolvente do convento é a “Sequóia Verde” - empresa responsável pelo projecto - que transporta toda a matéria morta para a central".
Em resposta aos nossos pedidos de informação indica que “Não há ainda implantado na zona nenhum esquema de aproveitamento da biomassa resultante dos cortes, pelo que os ramos e folhas são estilhaçados e ficam no local, para reposição de nutrientes e cobertura do solo, e os troncos saem, para queima, de acordo com o contrato estabelecido com o adjudicatário de alguns dos trabalhos.”
Ora aqui parece que há uma contradição clara entre o que foi dito ao Alvor de Sintra e aquilo que acontece no terreno.
-Também segundo nos foi comunicado,pela PSML passará a haver informação explicativa, nos locais onde as intervenções ocorrem,questão que não teria sido considerada até agora.
-Também o ICN, vem agora reconhecer que “ reconhece impacto visual do corte de árvores na Tapada D. Fernando II “ e que “o acompanhamento vai ser feito semanalmente”
O que parece que no terreno além da “Sequóia Verde”,empresa que estará a fazer os abates mais ninguém estaria a fiscalizar a intervenção.
E essa era a nossa suspeita...
e.r.
Obrigada